v encontro de
hospitalidade e turismo da universidade federal fluminense
“Espaços e
territórios dialogando com o turismo”
III JORNADA DE
INICIAÇÃO CIENTÍFICA EM HOSPITALIDADE E TURISMO
NITERÓI-RJ, 25, 26 e 27 de setembro DE 2013
REAFIRMAÇÃO
ÉTNICA E TERRITORIAL COMO ELEMENTOS DE HOSPITALIDADE NA FESTA DA RETOMADA DOS
ÍNDIOS XOKÓ - SERGIPE
Gisélia de Souza Cardoso
Graduanda do Curso de Turismo da Universidade Federal de
Sergipe
Rosana Eduardo da Silva Leal
Doutora – Docente do Curso de Turismo da Universidade
Federal de Sergipe
rosanaeduardo@yahoo.com.br
RESUMO
O
presente trabalho busca refletir sobre a relação entre cultura, festa e
hospitalidade, tendo como campo empírico a comunidade Xokó, única população
indígena de Sergipe. O estudo foi desenvolvido durante a Festa da Retomada,
celebração realizada todos os anos na aldeia, que congrega reafirmação étnica,
identitária e territorial, sendo também responsável por promover o diálogo com
a sociedade mais ampla. Neste âmbito, buscou identificar como as
especificidades culturais e simbólicas dos Xokó apresentam-se como recursos de
acolhimento aos visitantes durante a festa. Para tanto, utilizou-se da pesquisa
bibliográfica e de campo, servindo-se do método etnográfico, com o uso do
diário de campo e do registro fotográfico. O acolhimento dados aos visitantes
ocorre através da atenção, dos cuidados e da transmissão de valores da comunidade
local, proporcionando o contato com a cultura e os conhecimentos indígenas
presentes na aldeia. Diante dos dados coletados, o que se percebeu é que a
cultura é a essência da hospitalidade Xokó e o acolhimento é o complemento para
que novas visitas aconteçam na aldeia.
Palavras
Chave: Festa, cultura,
hospitalidade indígena, Xokó.
ABSTRACT
This paper
seeks to reflect on the relationship between culture and hospitality party,
whose empirical field community is Xokó, only indigenous population of Sergipe.
The study was conducted during “A Festa da Retomada”, it is a celebration held
every year in the village which congregates the reaffirmation ethnic and the
territorial identity, and is also responsible for promoting dialogue with the
wider society. In this context, we sought to identify how the specific cultural
and symbolic of Xoko present themselves as resources to host visitors during
the festival. Therefore, we used the literature and field, using the
ethnographic method, using the field diary and photographic record. The welcome
given to visitors is through attention, care and transmission values of the
local community, providing contact with the culture and indigenous knowledge
present in the village. From the collected data, it is known that culture is
the essence of Xoko’s hospitality, and
Xoko´s welcome is the complement to that new visits happen in the village.
Keywords: Party,
culture, indigenous hospitality, Xokó.
INTRODUÇÃO
O presente artigo é parte da pesquisa
desenvolvida para o trabalho de conclusão de curso que envolve o único
grupo remanescente indígena de Sergipe, o povo Xokó, que está situado na Ilha
de São Pedro, localizado no município de Porto da Folha. A pesquisa tem sido
realizada no Núcleo de Turismo da Universidade
Federal de Sergipe, através do Grupo de Estudo, Pesquisa e Extensão em
Antropologia e Turismo - ANTUR/UFS/CNPQ. Tem por finalidade propor um
roteiro de visitação turístico-educativa por meio da percepção e contribuição
da própria comunidade. Tal proposta busca contribuir para a melhor compreensão
dos costumes, práticas alimentares, produção artesanal, rituais, celebrações,
atividades econômicas e de subsistência existentes na aldeia, que
constantemente recebe grupos de estudantes para conhecer os modos de vida da
comunidade.
Neste âmbito, o artigo busca apresentar parte dos dados empíricos
coletados durante a Festa da Retomada, celebração que ocorre anualmente na
aldeia Xokó, no dia 09 de setembro em comemoração à reconquista do território. A intenção do estudo foi analisar como as
práticas culturais deste grupo indígena são utilizadas como elemento de
hospitalidade local e interação com a sociedade mais ampla durante a festa.
Conforme salienta Selwyn (2004, p. 47), “decididamente, a hospitalidade é
o meio, acima de todos os outros, de criar ou consolidar relacionamentos com
estranhos”. Trata-se de um conjunto de trocas simbólicas capazes de
estabelecer, fortalecer e/ou promover vínculos, em busca de minimizar reações
hostis diante do outro, apresentando-se como ferramenta sociocultural de
transformação de estranhos em conhecidos. Reflexão que corrobora com Aguiar,
Martins e Cardoso (2003) de que a alteridade constitui-se a essência da
hospitalidade, na medida em que permite ampliar o contato e a interação entre
visitantes e visitados, potencializando as relações sociais entre indivíduos,
povos e grupos distintos.
Para tanto, foram
utilizados a pesquisa bibliográfica e de campo. A pesquisa bibliográfica foi
baseada na análise da literatura já publicada sobre o assunto, sendo
desenvolvida por meio de livros, dissertações e teses, obtendo desta forma
informações sobre o tema pesquisado. Este procedimento foi utilizado para
possibilitar um maior embasamento teórico e amadurecimento científico sobre o
tema.
Através da
pesquisa de campo foi possível ter acesso ao universo simbólico dos Xokó, por
meio da coleta de dados empíricos sobre o grupo que permearam as produções
culturais e os membros da aldeia. Também foi utilizado o diário de campo e o registro
fotográfico da festividade, identificando
os elementos da cultura material e imaterial presentes no evento. Tais registros serviram para compreender os múltiplos
aspectos da celebração, bem como identificar o comportamento dos índios no
acolhimento e diálogo com os grupos externos.
O método etnográfico
também foi utilizado para a produção do presente estudo, servindo como
instrumento metodológico que contribuiu na vivência, participação e compreensão
da dinâmica sociocultural da festa, contribuindo para a compreensão mais profunda
sobre a relação entre visitados e visitantes.
- A
TRADIÇÃO E A REINVENÇÃO CULTURAL
Diante das mudanças
impostas pela modernidade, a cultura acaba sofrendo mudanças na estrutura
tradicional, fazendo com que a tradição seja reinventada, adquirindo novos padrões
de comportamento, que muitas vezes acontecem para atender as exigências do
mercado. Em alguns casos, elementos da cultura tradicional são adequados às
necessidades do mercado consumidor, causando assim uma descaracterização da
tradição e abrindo espaço para reinvenção cultural.
Por mais que argumentos
sejam feitos sobre a constante produção da cultura, é interessante destacar que
os aspectos tradicionais de um passado histórico devem ser mantidos em suas
características peculiares, desde o patrimônio material ou imaterial, sem
proporcionar novos padrões para a cultura tradicional anterior.
Autores argumentam que a
tradição sempre passa pelo processo de construção cultural. “Tradição como uma
categoria autoconsciente” é inevitavelmente “inventada”. Para Handler e
Linnekin apud Grünewald (2001, p. 285-286).
[...] tradição nunca
é totalmente natural, nem é sempre totalmente não relacionada com o passado. A
oposição entre uma tradição simplesmente herdada e aquela que é conscientemente
moldada é uma falsa dicotomia. O ponto crucial para nossos propósitos é que seu
valor como símbolos tradicionais não depende de uma relação objetiva ao
passado... O estudo pode objetar que tais costumes não são genuinamente
tradicionais, mas eles têm tanta força e tanto significado para seus
praticantes modernos quanto outros artefatos culturais que podem ser traçados
diretamente do passado.
De acordo com tais
autores, a cultura necessariamente precisa de reformulação e adequações, uma
vez que alguns traços são seguidos e outros têm descontinuidade, dando novas
simbologias às tradições. Os índios, por exemplo, que representam uns dos povos
mais antigos do Brasil, vem sofrendo um intenso processo de aculturação desde a
colonização, sofrendo mudanças drásticas, que se deram por meio da imposição da
cultura eurocêntrica, forçando um contato direto do índio com o não índio. Tal
realidade permitiu que novos costumes, tradições e valores fossem incorporados.
Além disso, é preciso também salientar que a própria diversidade cultural
existente no Brasil ocasionou uma mistura de costumes nos diferentes grupos da
sociedade. Devido a estes fatores, muitas das comunidades indígenas do país
acabaram adquirindo novas formas de vida, esquecendo alguns dos padrões
deixados pelos seus ancestrais. Por isso, atualmente os povos indígenas têm
passado por um processo de reinvenção cultural para atender a demanda da
sociedade moderna, que preferem identificar com resgate da cultura.
As comunidades indígenas
estão se adequando e se apropriando destas mudanças para expor sua cultura.
Muitas vezes utilizam a reinvenção como possibilidades de resgate de uma
cultura, que muitas vezes estava esquecida. Um exemplo dessa realidade é a
comunidade Pataxó, no município de Porto Seguro-BA, que fizeram adequações na
tradição para atender a demanda turística.
[...] as produções de
objetos tradicionais passam por mudanças em resposta a imposições comerciais e
estéticas de consumidores de lugares às vezes bem distantes - o que é, nas
aldeias pataxós, o caso de europeus que encomendam, por exemplo, brincos no
atacado para serem vendidos no exterior, mas recomendam um formato para o
brinco que venderia bem na Europa e não o habitual indígena (APPANDURAI, 1986
apud GRÜNEWALD, 2001, 137).
O que se percebe é que as crescentes alterações sociais
propiciam a reinvenção das tradições como forma de reafirmar-se no espaço que
estão inseridos. Porém, é necessário refletir sobre determinadas invenções ou
reinvenções, uma vez que distintos grupos sociais se apropriam de determinadas
mudanças, podendo dar-lhes novos valores e significados, o que pode causar uma
perda das características autênticas de um grupo. As tradições inventadas podem
receber diferentes interpretações.
[...]
são elas um conjunto de práticas, normalmente reguladas por regras tácitas ou
abertamente aceitas. Tais práticas, de natureza ritual ou simbólica, visam
inculcar certos valores e normas de comportamento através da repetição, o que
implica, automaticamente, uma continuidade em relação ao passado. Até as revoluções
e os “movimentos progressistas”, que por definição rompem com o passado, têm
seu passado relevante, ainda que numa continuidade bastante artificial. São
processos em que o passado é reinterpretado e transformado em tradição. [...]
trata-se de leitura feita sempre a posteriori, empreendida tanto pelos
diferentes agentes históricos, quanto pela historiografia, recorrendo ao
antigo, numa tentativa de legitimar a mudança e a inovação [...][1]
O que determina um comportamento, acontecimento ou valor
como tradicionais é a sua ligação com o conjunto de elementos dos quais existe
alguma relação com o sistema ritual e a denotação do ato, que liga à memória de
um grupo.
O mundo atual não vive constantemente do passado, visto
que as transformações acontecem no decorrer do tempo, sofrendo reconstruções no
presente. Tais mudanças atendem a desejos específicos, por isso, transformam-se
temporariamente. Chegam inúmeras vezes a fazer com que traços tradicionais
desapareçam, necessitando desta maneira que recriações sejam feitas sempre para
atender o moderno, fator preocupante, pois por mais que as tradições sejam criadas, devem-se manter as culturas
tradicionais anteriores para que assim possa se ter referências concretas de um
passado.
2. FESTA DA RETOMADA: UM OLHAR ETNOGRÁFICO
Não foram poucos os índios
no Brasil que sofreram abusos e desapropriações, perdendo o direito sobre seus
territórios. No caso específico dos índios Xokó de Sergipe, tal realidade se
concretizou através das autoridades do Estado, que negaram a existência de
índios devido ao processo de mestiçagem ao qual passaram. Este contexto
sociocultural apresentou-se como fator determinante, sendo os mesmos
enquadrados na categoria de caboclo (DANTAS, 1997). A situação se agravou ainda mais com a promulgação
da Lei das Terras em 1850, quando os Presidentes da Província de Sergipe
daquela época se esquivaram de fornecer garantias às populações nativas,
transformando as propriedades coletivas indígenas em grandes propriedades
rurais privadas. Desta maneira, os Xokó tiveram por mais de cem anos sua
identidade negada, sob o argumento de que não mais carregavam consigo suas
tradições e manifestações culturais.
Neste período, muitas
lutas ocorreram entre os latifundiários e os índios, sendo o povo Xokó perseguido,
massacrado e violentado. Muitos chegaram a sair da terra Caiçara, abandonando o
local onde os seus ancestrais viveram. Os que se mantiveram no território foram
trabalhar com meros empregados, impedidos de afirmar sua identidade indígena.
Após mais de um século, os
índios inconformados com a opressão dos fazendeiros se uniram para reaver o
território que lhes pertenciam. Tomada tal decisão, reocuparam a Ilha de São
Pedro em 09 de setembro de 1979 com o objetivo
de reintegração da terra. Dessa forma, algumas datas e eventos são relembrados
e valorizados pela aldeia através de solenidades periódicas. Dentre estes está
o dia 09 de setembro de 1979, data que representa o processo de recuperação das
terras Xokó iniciado pela Ilha de São Pedro – SE e que representa o dia da
independência daquele povo, sendo comemorada todos os anos.
A festividade tem uma
importante dimensão simbólica para a aldeia e, por isso, seus preparativos
começam uma semana antes, tendo um caráter sagrado e profano. Tudo é organizado
com o intuito de respeitar as normas internas do grupo, como também
possibilitar a presença dos visitantes e parentes de famílias indígenas que
chegam para a manifestação.
A festa, que é considerada
como uma das mais representativas manifestações da aldeia, ganhou uma dimensão
que ultrapassa as fronteiras do território Xokó, atraindo visitantes de
distintas regiões do país, dentre eles pesquisadores, estudantes de nível
médio, superior e de pós-graduação que buscam participar de tal celebração por
motivos diversos.
No dia anterior a
festividade, as índias da aldeia fazem o preparativo das comidas que serão
oferecidas para os visitantes. Estas são preparadas em baixo de uma árvore no
centro da aldeia, onde se reúnem para fazer a manipulação dos alimentos.
No dia da festa, as
atividades começam ainda na madrugada com a composição de um dos elementos
identitários da comunidade, que se dá a partir da pintura corporal, momento em
que os índios pintam o corpo com seus símbolos identitários. Trata-se do início
da festividade que ocorre envolvendo toda a comunidade, que está diferentemente
envolvida com a festa.
Posteriormente dá-se
início a alvorada de abertura, que acontece por volta das 4 horas da manhã do
dia 09.09, momento em que os Xokó percorrem as ruas da aldeia como se seguissem
em procissão, transmitindo o canto do Toré[2]
aos sons dos maracás, que representa uma das principais expressões da força,
espiritualidade e resistência do grupo. Neste instante, também são disparados
fogos de artifícios em locais estratégicos da aldeia.
Concluída a primeira fase
da festa, as mulheres continuam na aldeia com o intuito de finalizar a
preparação das refeições que serão utilizadas para o almoço. Os homens, por sua
vez, adentram a mata da Caiçara para realização de um ritual secreto. Por volta
das dez da manhã, às mulheres já pintadas, vão ao encontro dos homens em um
local definido com antecedência. Ao se encontrarem, organizam-se em filas,
estando às crianças na frente. Logo depois, seguem para o centro da aldeia e,
de forma ordenada, dançam o Toré ao redor do mastro, onde uma bandeira hasteada
representa a conquista da terra. Trata-se de um importante momento da
celebração, que aguça a percepção de todos que lá estão, visto que o
envolvimento com o ritual não acontece apenas entre os índios Xokó, mas também
entre os que prestigiam a festa. A energia da dança e da música envolve a todos
que estão presentes.
ILUSTRAÇÃO
01: DANÇA DO TORÉ
Fonte: Arquivo da pesquisa, Setembro, 2010.
Após essa manifestação,
todos seguem para frente da igreja para rezarem o pai-nosso e uma ave-maria. Ao
adentrarem a igreja, os índios ocupam parte do espaço, expressando a alegria da
sua reafirmação identitária e territorial. Este momento representa a mudança de
uma situação passada, em que a igreja tinha o domínio sobre os índios e que
agora não mais detém, já que o processo de decisão agora está nas mãos dos
próprios índios.
Após o momento de
comemoração acontece a missa, com participação da comunidade Xokó. O
encerramento se dá com cantos, orações e relatos de acontecimentos do passado
histórico. A continuidade da festa se dá ainda sobre o embalo dos cantos e da
dança do Toré. Os índios voltam ao entorno do mastro e fazem referências à mãe
natureza, a terra Xokó, a Jesus Cristo e a São Pedro (padroeiro da aldeia),
como uma forma de homenagem e agradecimento. As mulheres, por sua vez, se
ausentam para servir o almoço para os visitantes.
A festividade tem cunho
sagrado e profano, envolvendo em um único espaço elementos religiosos e
seculares com grande valor para os Xokó, pois é nesta manifestação que os
mesmos demonstram e exaltam a identidade étnica, podendo desta forma expor o
que por mais de um século ficou oculto no cotidiano dos índios e da comunidade
externa.
- A HOSPITALIDADE XOKÓ DURANTE A
FESTA
A Festa da Retomada envolve finalidades, motivações e
interesses distintos, proporcionando tanto para a comunidade indígena quanto
para os participantes um momento de interação social e sociabilidade. Para os
Xokó, a celebração busca transmitir o reencontro com a história, a memória, os
costumes e tradição de seu povo. Já para os visitantes, trata-se de um evento
tradicional que possibilita conhecimentos científicos, acadêmicos e
socioculturais que são compartilhados pelos anfitriões.
Durante a celebração, é possível encontrar elementos da
cultura Xokó que são rememorados e apresentados para os visitantes que chegam à
aldeia. Estes últimos passam a ter contato concreto com a história de luta e
resistência, bem como o contato com os rituais da comunidade, experiência
singular para aqueles que chegam à aldeia.
Outro fator que merece destaque é a forma com que os
índios Xokó se organizam para receber os visitantes. A hospitalidade Xokó, que
se dá de modo tradicional, ocorre a partir do momento em que os índios iniciam
os preparativos da festividade. Semanas antes da celebração, boa parte da
comunidade começa a preparar a aldeia para a recepção dos visitantes. Isso ocorre com alguns preparativos que vão
desde a limpeza do centro da aldeia e a igreja, até o início da confecção de
artigos que representam elementos identitários da comunidade. Estes são
elaborados pelas crianças do projeto Valorizando Raízes Xokó para serem
vendidos no dia 09 de setembro. Trata-se de uma tentativa de manter viva as
raízes Xokó, buscando o fortalecimento do uso das ervas medicinais e utilização
da matéria-prima existente na aldeia. A iniciativa visa trabalhar de forma
conjunta e participativa as possíveis alternativas, bem como apropriação de
conhecimentos na confecção de sabonetes, xaropes, artesanato e cerâmicas, tendo
assim uma fonte de renda, para beneficiar tanto os jovens como a escola.
ILUSTRAÇÃO
02: ARTIGOS DO PROJETO RESGATANDO RAÍZES XOKÓ
Fonte: Arquivo da pesquisa, Setembro, 2012
No dia anterior a festa, as mulheres da comunidade
começam a preparar as comidas para o almoço do dia seguinte, que são oferecidas
gratuitamente para os visitantes. O que chama atenção é a maneira tradicional
de se cozinhar os alimentos, pois se tem a abertura de um buraco sobre o chão
que, quando se tem uma profundidade considerável, coloca-se a lenha e a panela,
demonstrando não só uma preparação coletiva, como também uma prática peculiar
de cozinhar os alimentos na comunidade.
ILUSTRAÇÃO 03: MODO DE COZINHAR
Fonte:
Arquivo da pesquisa, Setembro, 2012
Aqueles visitantes que não querem comer da comida
ofertada pela comunidade podem alimentar-se no restaurante indígena existente
na aldeia. Os que buscam este estabelecimento estão contribuindo para o
incremento na renda do dono do estabelecimento, que também é um índio da
comunidade.
Outra maneira de acolhimento é permitir que os visitantes
se integrem a alguns momentos do ritual. Isso acontece quando os Xokó saem em
forma de procissão no entorno da aldeia, tocando maracás e fazendo os contos do
Toré. Neste momento, os visitantes são convidados a participar até certo
momento do ato, visto que, quando seguem para o local do Ouricuri[3]
não é mais permitida à presença de não-índios. Trata-se de uma forma de incluir
os visitantes nos costumes que envolvem a festa, proporcionando uma nova
experiência para os mesmos.
O acolhimento indígena também é perceptível não só pelas
práticas culturais descritas, mas principalmente pelo acolhimento fraterno que
é dado aos visitantes. Há uma constante preocupação dos anfitriões com o bem
estar e a integração dos visitantes no contexto da festa.
CONSIDERAÇÕES
FINAIS
A hospitalidade
é definida por diferentes conceitos, dentre eles estão a disponibilidade de
produtos e serviços que deem subsídios e apoio aos visitantes em período de
estada no local visitado. Porém, no destino em questão, essa disponibilidade de
serviços e produtos deve ser compatível com as características da comunidade,
não podendo alterar o ambiente para atender os anseios dos visitantes, visto
que se trata de uma comunidade tradicional. Portanto, a hospitalidade oferta
pelos Xokó parte dos recursos naturais e culturais existentes na aldeia,
pautados nos traços étnicos e identitários.
O fluxo de
visitantes Sergipanos na festividade Xokó demonstra também o despertar por
parte da sociedade pelo patrimônio material e imaterial presentes na respectiva
comunidade indígena, que acaba sendo transmitido na festa do dia 09 de
setembro. Trata-se de uma festividade que engloba aspectos condizentes com todo
o passado histórico, com os saberes e fazeres da comunidade.
Outro
elemento identificado diz respeito ao processo de ressignificação que vem
ocorrendo das violações sofridas pelos Xokó. Isso se dá através do resgate de
sua identidade e da transmissão das especificidades culturais para sociedade
mais ampla, rompendo fronteiras e atraindo visitantes não só do estado de Sergipe,
mas também de distintas regiões do país, ganhando espaço no cenário do
brasileiro.
O
acolhimento dados aos visitantes ocorre através da atenção, dos cuidados e da
transmissão de valores da comunidade local, proporcionando o contato com a
cultura e os conhecimentos indígenas presentes na aldeia. Diante dos dados
coletados, o que se percebeu é que a cultura é a essência da hospitalidade Xokó
e o acolhimento é o complemento para que novas visitas aconteçam na aldeia.
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[1] Programa de
Pós-Graduação em História – UFMG. Apresentação do curso. Disponível em:
http://www.fafich.ufmg.br/ppghis/programa/ApresentacaoCurso.pdf
[2] É a
representatividade da autencidade Xokó, o canto do Toré é realizado com o
complemento da dança onde os índios ao executar o canto e a dança invocam Deus,
celebrando os valores culturais a eles pertencentes.
[3] Espaço sagrado
afastado da aldeia, onde os índios Xokó marcam sua auto-afirmação, conservam e
manifestam o mistério do ritual sagrado a eles pertencente.