segunda-feira, 14 de outubro de 2013


v encontro de hospitalidade e turismo da universidade federal fluminense
“Espaços e territórios dialogando com o turismo”
III JORNADA DE INICIAÇÃO CIENTÍFICA EM HOSPITALIDADE E TURISMO

NITERÓI-RJ, 25, 26 e 27 de setembro DE 2013

REAFIRMAÇÃO ÉTNICA E TERRITORIAL COMO ELEMENTOS DE HOSPITALIDADE NA FESTA DA RETOMADA DOS ÍNDIOS XOKÓ - SERGIPE




Gisélia de Souza Cardoso
Graduanda do Curso de Turismo da Universidade Federal de Sergipe

Rosana Eduardo da Silva Leal
Doutora – Docente do Curso de Turismo da Universidade Federal de Sergipe
rosanaeduardo@yahoo.com.br



RESUMO

O presente trabalho busca refletir sobre a relação entre cultura, festa e hospitalidade, tendo como campo empírico a comunidade Xokó, única população indígena de Sergipe. O estudo foi desenvolvido durante a Festa da Retomada, celebração realizada todos os anos na aldeia, que congrega reafirmação étnica, identitária e territorial, sendo também responsável por promover o diálogo com a sociedade mais ampla. Neste âmbito, buscou identificar como as especificidades culturais e simbólicas dos Xokó apresentam-se como recursos de acolhimento aos visitantes durante a festa. Para tanto, utilizou-se da pesquisa bibliográfica e de campo, servindo-se do método etnográfico, com o uso do diário de campo e do registro fotográfico. O acolhimento dados aos visitantes ocorre através da atenção, dos cuidados e da transmissão de valores da comunidade local, proporcionando o contato com a cultura e os conhecimentos indígenas presentes na aldeia. Diante dos dados coletados, o que se percebeu é que a cultura é a essência da hospitalidade Xokó e o acolhimento é o complemento para que novas visitas aconteçam na aldeia.

Palavras Chave: Festa, cultura, hospitalidade indígena, Xokó.


ABSTRACT

This paper seeks to reflect on the relationship between culture and hospitality party, whose empirical field community is Xokó, only indigenous population of Sergipe. The study was conducted during “A Festa da Retomada”, it is a celebration held every year in the village which congregates the reaffirmation ethnic and the territorial identity, and is also responsible for promoting dialogue with the wider society. In this context, we sought to identify how the specific cultural and symbolic of Xoko present themselves as resources to host visitors during the festival. Therefore, we used the literature and field, using the ethnographic method, using the field diary and photographic record. The welcome given to visitors is through attention, care and transmission values ​​of the local community, providing contact with the culture and indigenous knowledge present in the village. From the collected data, it is known that culture is the essence of Xoko’s  hospitality, and Xoko´s welcome is the complement to that new visits happen in the village.

Keywords: Party, culture, indigenous hospitality, Xokó.


INTRODUÇÃO
O presente artigo é parte da pesquisa desenvolvida para o trabalho de conclusão de curso que envolve o único grupo remanescente indígena de Sergipe, o povo Xokó, que está situado na Ilha de São Pedro, localizado no município de Porto da Folha. A pesquisa tem sido realizada no Núcleo de Turismo da Universidade Federal de Sergipe, através do Grupo de Estudo, Pesquisa e Extensão em Antropologia e Turismo - ANTUR/UFS/CNPQ. Tem por finalidade propor um roteiro de visitação turístico-educativa por meio da percepção e contribuição da própria comunidade. Tal proposta busca contribuir para a melhor compreensão dos costumes, práticas alimentares, produção artesanal, rituais, celebrações, atividades econômicas e de subsistência existentes na aldeia, que constantemente recebe grupos de estudantes para conhecer os modos de vida da comunidade.
Neste âmbito, o artigo busca apresentar parte dos dados empíricos coletados durante a Festa da Retomada, celebração que ocorre anualmente na aldeia Xokó, no dia 09 de setembro em comemoração à reconquista do território. A intenção do estudo foi analisar como as práticas culturais deste grupo indígena são utilizadas como elemento de hospitalidade local e interação com a sociedade mais ampla durante a festa.
Conforme salienta Selwyn (2004, p. 47), “decididamente, a hospitalidade é o meio, acima de todos os outros, de criar ou consolidar relacionamentos com estranhos”. Trata-se de um conjunto de trocas simbólicas capazes de estabelecer, fortalecer e/ou promover vínculos, em busca de minimizar reações hostis diante do outro, apresentando-se como ferramenta sociocultural de transformação de estranhos em conhecidos. Reflexão que corrobora com Aguiar, Martins e Cardoso (2003) de que a alteridade constitui-se a essência da hospitalidade, na medida em que permite ampliar o contato e a interação entre visitantes e visitados, potencializando as relações sociais entre indivíduos, povos e grupos distintos.
Para tanto, foram utilizados a pesquisa bibliográfica e de campo. A pesquisa bibliográfica foi baseada na análise da literatura já publicada sobre o assunto, sendo desenvolvida por meio de livros, dissertações e teses, obtendo desta forma informações sobre o tema pesquisado. Este procedimento foi utilizado para possibilitar um maior embasamento teórico e amadurecimento científico sobre o tema.
Através da pesquisa de campo foi possível ter acesso ao universo simbólico dos Xokó, por meio da coleta de dados empíricos sobre o grupo que permearam as produções culturais e os membros da aldeia. Também foi utilizado o diário de campo e o registro fotográfico da festividade, identificando os elementos da cultura material e imaterial presentes no evento. Tais registros serviram para compreender os múltiplos aspectos da celebração, bem como identificar o comportamento dos índios no acolhimento e diálogo com os grupos externos.
O método etnográfico também foi utilizado para a produção do presente estudo, servindo como instrumento metodológico que contribuiu na vivência, participação e compreensão da dinâmica sociocultural da festa, contribuindo para a compreensão mais profunda sobre a relação entre visitados e visitantes.

  1. A TRADIÇÃO E A REINVENÇÃO CULTURAL
Diante das mudanças impostas pela modernidade, a cultura acaba sofrendo mudanças na estrutura tradicional, fazendo com que a tradição seja reinventada, adquirindo novos padrões de comportamento, que muitas vezes acontecem para atender as exigências do mercado. Em alguns casos, elementos da cultura tradicional são adequados às necessidades do mercado consumidor, causando assim uma descaracterização da tradição e abrindo espaço para reinvenção cultural.
Por mais que argumentos sejam feitos sobre a constante produção da cultura, é interessante destacar que os aspectos tradicionais de um passado histórico devem ser mantidos em suas características peculiares, desde o patrimônio material ou imaterial, sem proporcionar novos padrões para a cultura tradicional anterior.
Autores argumentam que a tradição sempre passa pelo processo de construção cultural. “Tradição como uma categoria autoconsciente” é inevitavelmente “inventada”. Para Handler e Linnekin apud Grünewald (2001, p. 285-286).

[...] tradição nunca é totalmente natural, nem é sempre totalmente não relacionada com o passado. A oposição entre uma tradição simplesmente herdada e aquela que é conscientemente moldada é uma falsa dicotomia. O ponto crucial para nossos propósitos é que seu valor como símbolos tradicionais não depende de uma relação objetiva ao passado... O estudo pode objetar que tais costumes não são genuinamente tradicionais, mas eles têm tanta força e tanto significado para seus praticantes modernos quanto outros artefatos culturais que podem ser traçados diretamente do passado.


De acordo com tais autores, a cultura necessariamente precisa de reformulação e adequações, uma vez que alguns traços são seguidos e outros têm descontinuidade, dando novas simbologias às tradições. Os índios, por exemplo, que representam uns dos povos mais antigos do Brasil, vem sofrendo um intenso processo de aculturação desde a colonização, sofrendo mudanças drásticas, que se deram por meio da imposição da cultura eurocêntrica, forçando um contato direto do índio com o não índio. Tal realidade permitiu que novos costumes, tradições e valores fossem incorporados. Além disso, é preciso também salientar que a própria diversidade cultural existente no Brasil ocasionou uma mistura de costumes nos diferentes grupos da sociedade. Devido a estes fatores, muitas das comunidades indígenas do país acabaram adquirindo novas formas de vida, esquecendo alguns dos padrões deixados pelos seus ancestrais. Por isso, atualmente os povos indígenas têm passado por um processo de reinvenção cultural para atender a demanda da sociedade moderna, que preferem identificar com resgate da cultura.
As comunidades indígenas estão se adequando e se apropriando destas mudanças para expor sua cultura. Muitas vezes utilizam a reinvenção como possibilidades de resgate de uma cultura, que muitas vezes estava esquecida. Um exemplo dessa realidade é a comunidade Pataxó, no município de Porto Seguro-BA, que fizeram adequações na tradição para atender a demanda turística.

[...] as produções de objetos tradicionais passam por mudanças em resposta a imposições comerciais e estéticas de consumidores de lugares às vezes bem distantes - o que é, nas aldeias pataxós, o caso de europeus que encomendam, por exemplo, brincos no atacado para serem vendidos no exterior, mas recomendam um formato para o brinco que venderia bem na Europa e não o habitual indígena (APPANDURAI, 1986 apud GRÜNEWALD, 2001, 137).

O que se percebe é que as crescentes alterações sociais propiciam a reinvenção das tradições como forma de reafirmar-se no espaço que estão inseridos. Porém, é necessário refletir sobre determinadas invenções ou reinvenções, uma vez que distintos grupos sociais se apropriam de determinadas mudanças, podendo dar-lhes novos valores e significados, o que pode causar uma perda das características autênticas de um grupo. As tradições inventadas podem receber diferentes interpretações.

[...] são elas um conjunto de práticas, normalmente reguladas por regras tácitas ou abertamente aceitas. Tais práticas, de natureza ritual ou simbólica, visam inculcar certos valores e normas de comportamento através da repetição, o que implica, automaticamente, uma continuidade em relação ao passado. Até as revoluções e os “movimentos progressistas”, que por definição rompem com o passado, têm seu passado relevante, ainda que numa continuidade bastante artificial. São processos em que o passado é reinterpretado e transformado em tradição. [...] trata-se de leitura feita sempre a posteriori, empreendida tanto pelos diferentes agentes históricos, quanto pela historiografia, recorrendo ao antigo, numa tentativa de legitimar a mudança e a inovação [...][1]

O que determina um comportamento, acontecimento ou valor como tradicionais é a sua ligação com o conjunto de elementos dos quais existe alguma relação com o sistema ritual e a denotação do ato, que liga à memória de um grupo.
O mundo atual não vive constantemente do passado, visto que as transformações acontecem no decorrer do tempo, sofrendo reconstruções no presente. Tais mudanças atendem a desejos específicos, por isso, transformam-se temporariamente. Chegam inúmeras vezes a fazer com que traços tradicionais desapareçam, necessitando desta maneira que recriações sejam feitas sempre para atender o moderno, fator preocupante, pois por mais que as tradições sejam criadas, devem-se manter as culturas tradicionais anteriores para que assim possa se ter referências concretas de um passado.


2.    FESTA DA RETOMADA: UM OLHAR ETNOGRÁFICO

Não foram poucos os índios no Brasil que sofreram abusos e desapropriações, perdendo o direito sobre seus territórios. No caso específico dos índios Xokó de Sergipe, tal realidade se concretizou através das autoridades do Estado, que negaram a existência de índios devido ao processo de mestiçagem ao qual passaram. Este contexto sociocultural apresentou-se como fator determinante, sendo os mesmos enquadrados na categoria de caboclo (DANTAS, 1997).  A situação se agravou ainda mais com a promulgação da Lei das Terras em 1850, quando os Presidentes da Província de Sergipe daquela época se esquivaram de fornecer garantias às populações nativas, transformando as propriedades coletivas indígenas em grandes propriedades rurais privadas. Desta maneira, os Xokó tiveram por mais de cem anos sua identidade negada, sob o argumento de que não mais carregavam consigo suas tradições e manifestações culturais.
Neste período, muitas lutas ocorreram entre os latifundiários e os índios, sendo o povo Xokó perseguido, massacrado e violentado. Muitos chegaram a sair da terra Caiçara, abandonando o local onde os seus ancestrais viveram. Os que se mantiveram no território foram trabalhar com meros empregados, impedidos de afirmar sua identidade indígena.
Após mais de um século, os índios inconformados com a opressão dos fazendeiros se uniram para reaver o território que lhes pertenciam. Tomada tal decisão, reocuparam a Ilha de São Pedro em 09 de setembro de 1979 com o objetivo de reintegração da terra. Dessa forma, algumas datas e eventos são relembrados e valorizados pela aldeia através de solenidades periódicas. Dentre estes está o dia 09 de setembro de 1979, data que representa o processo de recuperação das terras Xokó iniciado pela Ilha de São Pedro – SE e que representa o dia da independência daquele povo, sendo comemorada todos os anos.
A festividade tem uma importante dimensão simbólica para a aldeia e, por isso, seus preparativos começam uma semana antes, tendo um caráter sagrado e profano. Tudo é organizado com o intuito de respeitar as normas internas do grupo, como também possibilitar a presença dos visitantes e parentes de famílias indígenas que chegam para a manifestação.
A festa, que é considerada como uma das mais representativas manifestações da aldeia, ganhou uma dimensão que ultrapassa as fronteiras do território Xokó, atraindo visitantes de distintas regiões do país, dentre eles pesquisadores, estudantes de nível médio, superior e de pós-graduação que buscam participar de tal celebração por motivos diversos.
No dia anterior a festividade, as índias da aldeia fazem o preparativo das comidas que serão oferecidas para os visitantes. Estas são preparadas em baixo de uma árvore no centro da aldeia, onde se reúnem para fazer a manipulação dos alimentos.
No dia da festa, as atividades começam ainda na madrugada com a composição de um dos elementos identitários da comunidade, que se dá a partir da pintura corporal, momento em que os índios pintam o corpo com seus símbolos identitários. Trata-se do início da festividade que ocorre envolvendo toda a comunidade, que está diferentemente envolvida com a festa.
Posteriormente dá-se início a alvorada de abertura, que acontece por volta das 4 horas da manhã do dia 09.09, momento em que os Xokó percorrem as ruas da aldeia como se seguissem em procissão, transmitindo o canto do Toré[2] aos sons dos maracás, que representa uma das principais expressões da força, espiritualidade e resistência do grupo. Neste instante, também são disparados fogos de artifícios em locais estratégicos da aldeia.
Concluída a primeira fase da festa, as mulheres continuam na aldeia com o intuito de finalizar a preparação das refeições que serão utilizadas para o almoço. Os homens, por sua vez, adentram a mata da Caiçara para realização de um ritual secreto. Por volta das dez da manhã, às mulheres já pintadas, vão ao encontro dos homens em um local definido com antecedência. Ao se encontrarem, organizam-se em filas, estando às crianças na frente. Logo depois, seguem para o centro da aldeia e, de forma ordenada, dançam o Toré ao redor do mastro, onde uma bandeira hasteada representa a conquista da terra. Trata-se de um importante momento da celebração, que aguça a percepção de todos que lá estão, visto que o envolvimento com o ritual não acontece apenas entre os índios Xokó, mas também entre os que prestigiam a festa. A energia da dança e da música envolve a todos que estão presentes.

ILUSTRAÇÃO 01: DANÇA DO TORÉ
 










            Fonte: Arquivo da pesquisa, Setembro, 2010.

Após essa manifestação, todos seguem para frente da igreja para rezarem o pai-nosso e uma ave-maria. Ao adentrarem a igreja, os índios ocupam parte do espaço, expressando a alegria da sua reafirmação identitária e territorial. Este momento representa a mudança de uma situação passada, em que a igreja tinha o domínio sobre os índios e que agora não mais detém, já que o processo de decisão agora está nas mãos dos próprios índios.
Após o momento de comemoração acontece a missa, com participação da comunidade Xokó. O encerramento se dá com cantos, orações e relatos de acontecimentos do passado histórico. A continuidade da festa se dá ainda sobre o embalo dos cantos e da dança do Toré. Os índios voltam ao entorno do mastro e fazem referências à mãe natureza, a terra Xokó, a Jesus Cristo e a São Pedro (padroeiro da aldeia), como uma forma de homenagem e agradecimento. As mulheres, por sua vez, se ausentam para servir o almoço para os visitantes.
A festividade tem cunho sagrado e profano, envolvendo em um único espaço elementos religiosos e seculares com grande valor para os Xokó, pois é nesta manifestação que os mesmos demonstram e exaltam a identidade étnica, podendo desta forma expor o que por mais de um século ficou oculto no cotidiano dos índios e da comunidade externa.

  1. A HOSPITALIDADE XOKÓ DURANTE A FESTA

A Festa da Retomada envolve finalidades, motivações e interesses distintos, proporcionando tanto para a comunidade indígena quanto para os participantes um momento de interação social e sociabilidade. Para os Xokó, a celebração busca transmitir o reencontro com a história, a memória, os costumes e tradição de seu povo. Já para os visitantes, trata-se de um evento tradicional que possibilita conhecimentos científicos, acadêmicos e socioculturais que são compartilhados pelos anfitriões. 
Durante a celebração, é possível encontrar elementos da cultura Xokó que são rememorados e apresentados para os visitantes que chegam à aldeia. Estes últimos passam a ter contato concreto com a história de luta e resistência, bem como o contato com os rituais da comunidade, experiência singular para aqueles que chegam à aldeia.
Outro fator que merece destaque é a forma com que os índios Xokó se organizam para receber os visitantes. A hospitalidade Xokó, que se dá de modo tradicional, ocorre a partir do momento em que os índios iniciam os preparativos da festividade. Semanas antes da celebração, boa parte da comunidade começa a preparar a aldeia para a recepção dos visitantes.  Isso ocorre com alguns preparativos que vão desde a limpeza do centro da aldeia e a igreja, até o início da confecção de artigos que representam elementos identitários da comunidade. Estes são elaborados pelas crianças do projeto Valorizando Raízes Xokó para serem vendidos no dia 09 de setembro. Trata-se de uma tentativa de manter viva as raízes Xokó, buscando o fortalecimento do uso das ervas medicinais e utilização da matéria-prima existente na aldeia. A iniciativa visa trabalhar de forma conjunta e participativa as possíveis alternativas, bem como apropriação de conhecimentos na confecção de sabonetes, xaropes, artesanato e cerâmicas, tendo assim uma fonte de renda, para beneficiar tanto os jovens como a escola.


ILUSTRAÇÃO 02: ARTIGOS DO PROJETO RESGATANDO RAÍZES XOKÓ

                 
                  Fonte: Arquivo da pesquisa, Setembro, 2012
No dia anterior a festa, as mulheres da comunidade começam a preparar as comidas para o almoço do dia seguinte, que são oferecidas gratuitamente para os visitantes. O que chama atenção é a maneira tradicional de se cozinhar os alimentos, pois se tem a abertura de um buraco sobre o chão que, quando se tem uma profundidade considerável, coloca-se a lenha e a panela, demonstrando não só uma preparação coletiva, como também uma prática peculiar de cozinhar os alimentos na comunidade.   
                      
                                  ILUSTRAÇÃO 03: MODO DE COZINHAR
        









    Fonte: Arquivo da pesquisa, Setembro, 2012

Aqueles visitantes que não querem comer da comida ofertada pela comunidade podem alimentar-se no restaurante indígena existente na aldeia. Os que buscam este estabelecimento estão contribuindo para o incremento na renda do dono do estabelecimento, que também é um índio da comunidade.
Outra maneira de acolhimento é permitir que os visitantes se integrem a alguns momentos do ritual. Isso acontece quando os Xokó saem em forma de procissão no entorno da aldeia, tocando maracás e fazendo os contos do Toré. Neste momento, os visitantes são convidados a participar até certo momento do ato, visto que, quando seguem para o local do Ouricuri[3] não é mais permitida à presença de não-índios. Trata-se de uma forma de incluir os visitantes nos costumes que envolvem a festa, proporcionando uma nova experiência para os mesmos.
O acolhimento indígena também é perceptível não só pelas práticas culturais descritas, mas principalmente pelo acolhimento fraterno que é dado aos visitantes. Há uma constante preocupação dos anfitriões com o bem estar e a integração dos visitantes no contexto da festa.

CONSIDERAÇÕES FINAIS
A hospitalidade é definida por diferentes conceitos, dentre eles estão a disponibilidade de produtos e serviços que deem subsídios e apoio aos visitantes em período de estada no local visitado. Porém, no destino em questão, essa disponibilidade de serviços e produtos deve ser compatível com as características da comunidade, não podendo alterar o ambiente para atender os anseios dos visitantes, visto que se trata de uma comunidade tradicional. Portanto, a hospitalidade oferta pelos Xokó parte dos recursos naturais e culturais existentes na aldeia, pautados nos traços étnicos e identitários.
O fluxo de visitantes Sergipanos na festividade Xokó demonstra também o despertar por parte da sociedade pelo patrimônio material e imaterial presentes na respectiva comunidade indígena, que acaba sendo transmitido na festa do dia 09 de setembro. Trata-se de uma festividade que engloba aspectos condizentes com todo o passado histórico, com os saberes e fazeres da comunidade.
Outro elemento identificado diz respeito ao processo de ressignificação que vem ocorrendo das violações sofridas pelos Xokó. Isso se dá através do resgate de sua identidade e da transmissão das especificidades culturais para sociedade mais ampla, rompendo fronteiras e atraindo visitantes não só do estado de Sergipe, mas também de distintas regiões do país, ganhando espaço no cenário do brasileiro.
O acolhimento dados aos visitantes ocorre através da atenção, dos cuidados e da transmissão de valores da comunidade local, proporcionando o contato com a cultura e os conhecimentos indígenas presentes na aldeia. Diante dos dados coletados, o que se percebeu é que a cultura é a essência da hospitalidade Xokó e o acolhimento é o complemento para que novas visitas aconteçam na aldeia.



REFERÊNCIAS
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[1] Programa de Pós-Graduação em História – UFMG. Apresentação do curso. Disponível em: http://www.fafich.ufmg.br/ppghis/programa/ApresentacaoCurso.pdf

[2] É a representatividade da autencidade Xokó, o canto do Toré é realizado com o complemento da dança onde os índios ao executar o canto e a dança invocam Deus, celebrando os valores culturais a eles pertencentes.
[3] Espaço sagrado afastado da aldeia, onde os índios Xokó marcam sua auto-afirmação, conservam e manifestam o mistério do ritual sagrado a eles pertencente.

terça-feira, 1 de outubro de 2013

CARTA XOKÓ


Ilha de São Pedro, Aldeia Indígena do Povo Xokó, 19 de abril de 2013

CARTA DO POVO XOKÓ

O povo Xokó, habitante primeiro das terras da Caiçara, nas margens do Rio São Francisco (Opará- rio mar), aproveitando o período de comemorações do dia do Índio, na aurora do século XXI, torna pública esta Carta que retrata em poucas linhas, sua história de lutas; suas angústias e intenções.
Apesar de habitar estas terras, desde tempos imemoriais, sua posse e uso tranquilos, são recentes. Muitas foram às violências que ao longo de séculos ameaçaram e espoliaram nosso povo, chegando quase ao ponto de nos dizimar por completo. Conflitos com os conquistadores portugueses, com o Estado brasileiro que nascia e já nos ignorava, com seus representantes, fazendeiros e grandes proprietários, que insistiam e nos colocar à margem da formação da cultura nacional e de suas políticas de desenvolvimento. Tentativas de integração forçada que não reconheciam nossa identidade e procuravam nos integrar de forma que já não fossemos o Xokó que fomos, somos e queremos continuar a ser. Seja através das armas, das doenças, da religião de Doroteu e de outros tantos ou mesmo de uma educação que negava nossa cultura, nossa língua, nossa forma de compreender e habitar estas terras, sempre fomos estranhos à pátria que nascia e se desenvolvia em nosso território originário.
Apesar das diversas tentativas de nos assegurarmos da posse tranquila e harmônica de nosso território e da manutenção de nossa cultura ancestral, que passou por conversas e negociações com o Imperador Dom Pedro II, e com vários presidentes e governantes que o sucederam e que nos reconheceram em suas leis, continuamos sendo ignorados e violentados em nossos direitos.
Fomos levados à guerra que no século XX, ameaçando dizimar nosso povo, acabou por uni-lo e fortalecê-lo. Expulsos da Caiçara, berço da nossa gente, por pessoas que se dizem representantes da lei e da justiça, as vinte e duas famílias que lá habitavam, no entorno de tamarindos e mangueiras, bem como as quatro famílias que habitavam o Belém; com barcos e a nado atravessamos rumo à Ilha de São Pedro.
As vinte e duas casas que lá ficaram, foram destruídas pelos fazendeiros. Destruíram tudo o que foi construído pelos nossos antepassados, incluindo o terreiro e o cemitério primitivo. Da Caiçara hoje só resta o nome e as lembranças históricas. Não bastasse a violência imposta pelos fazendeiros, também sofremos com as interferências realizadas em nosso rio, a exemplo da Usina Hidrelétrica de Xingó que mudou  sua brutalmente o volume e  a força de suas águas. A lagoa que durante vários anos foi fonte de sobrevivência do nosso povo, na colheita do arroz e na pesca, hoje está seca e cheia de mato. A Caiçara não é mais a mesma e seus filhos choram pelo que fizeram com ela.
 Atravessamos o rio que em outros tempos era só fartura e alegria, mas que por meio de projetos que não respeitam suas leis naturais, está sendo esvaziado e aterrado. Um rio que chegava a ter uma profundidade de trinta a quarenta metros, e no qual se navegava com grandes embarcações; hoje, depois das interferências feitas pela mão do “homem civilizado”, expõe bancos de areia e pouca profundidade. Este é o legado deixado por engenheiros e doutores, que não nos escutaram e tudo destruíram. Dói muito ver toda essa história destruída pela força do homem.
Bravos guerreiros e guerreiras morreram por lutar para viver enquanto povo livre e com jeito próprio de entender a vida. Tudo isso nos tornou experientes, pois a dor machuca, mas também ensina. Ensina que há sempre uma grande distância entre as belas palavras gravadas com tinta nos documentos legais e a sua aplicação na vida prática de nosso povo.
A chegada na Ilha de São Pedro,  que até então era reconhecida como terra das Missões – ocupada pelos jesuítas e missionários que no século XVII construíram a Missão de São Pedro - e a sucessão de conflitos que se seguiram, acabaram por desencadear os processos legais que levaram o então Presidente da República, senhor Fernando Collor de Mello a assinar, em 24 de dezembro de 1991, o Decreto n 401/91 que reconheceu a demarcação da área indígena Caiçara realizada pelo órgão tutor  FUNAI, em 1988. Contudo, foi só em março de 1993 que ocorreu uma reunião entre o Ministério Público Federal de Sergipe, a FUNAI, as Lideranças Xokó e os fazendeiros, onde foi acordado que a União pagaria pelas benfeitorias construídas no território indígena Caiçara. Finalmente, nos dias 22 e 23 de maio de 1993, os bravos guerreiros  Xokó tomaram a posse definitiva da área Indígena Caiçara, marcando uma nova fase da vida de nosso povo.
Apesar das mazelas e das violências, sobrevivemos enquanto povo e nação. Nossas lutas e reivindicações, somada a de outros povos e grupos que sempre lutaram para que todos tivessem o direito de viver com autonomia, habitando este mundo que nos abriga a todos, fizeram com que novas leis e convenções fossem aprovadas e começassem a se efetivar na prática.  No âmbito internacional, a Convenção 169 da OIT sobre Povos Indígenas e Tribais, de 1989, lembrando “a particular contribuição dos povos indígenas e tribais à diversidade cultural, à harmonia social e ecológica da humanidade e à cooperação e compreensão internacionais”, declara ao longo de seus quarenta e quatro artigos a importância da promoção efetiva dos direitos sociais, econômicos e culturais desses povos. A mesma resolução ressalta que devem ser valorizados os costumes, tradições, instituições e demais traços que compõem a identidade social e cultural dos povos tradicionais por meio de políticas públicas diferenciadas que atendam às especificidades dos povos indígenas. Nesse sentido, se faz necessária e com urgência a implementação de uma Escola verdadeiramente diferenciada, de uma saúde indígena também diferenciada e de qualidade. É preciso que nosso povo tenha seus direitos constituídos e sagrados garantidos, bem como o seu direito a um meio ambiente saudável.
Esta resolução assim como as Leis que a ratificam e fortalecem no âmbito nacional, estejam elas presentes na atual Constituição Federal, a exemplo dos artigos 215, 216 e 231 que tratam dos vários direitos indígenas, ou estejam elas presentes na lei de Diretrizes e Bases da Educação (LDB), estão impressa em tinta nos documentos oficiais, mas precisam de fato ser implantadas na prática. Estamos atentos a estes direitos e dispostos a trabalhar e lutar para que os mesmos se efetivem. Este é o momento atual vivenciado pelo povo Xokó, momento tão ou mais importante que os momentos passados, que nos trouxeram até aqui.
  Contudo, a longa experiência de descumprimento de acordos e de retrocessos na aquisição e efetivação de nossos direitos fez com que ficássemos permanentemente atentos para a situação, não apenas formal de nossos direitos fundamentais, mas para a sua efetiva implementação.
É a partir dessas ideias que surgiu o I Seminário Indígena Xokó. Esperamos que este Seminário, que buscou integrar os vários setores governamentais e não governamentais, seja um marco que sirva para reforçar o interesse em implementar de fato, nosso direito à participar e à contribuir para a melhoria do Estado de Direito no Brasil  e mais especificamente no Estado de Sergipe, haja vista que o povo Xokó é a única nação indígena sobrevivente do genocídio realizado nos últimos 513 anos  de conquista dos colonizadores. Esperamos que as diversas Secretarias de Estado cumpram seu papel na efetivação da legislação vigente. Esperamos também que a Universidade sirva como elo de ligação entre estes setores, e se efetive enquanto um espaço de debate, de crítica e de elaboração de projetos que nos auxiliem na luta pela melhoria das condições de vida do povo Xokó e da sociedade brasileira.
Finalmente, aproveitamos este espaço para divulgar que o II Seminário Indígena Xokó  está agendado para os dias 18 e 19 de abril de 2014. Essa ocasião será de fundamental importância para que o povo Xokó possa fazer uma avaliação dos avanços obtidos a partir deste primeiro encontro e possa projetar parcerias para reforçar nossas lutas futuras.


Saudações Indígenas Xokó.



NOSSO FUTURO COMEÇA AGORA...

Nossa história nos ensina que as palavras nem sempre se concretizam, mas é importante que ideias e propostas orientem nossa ação presente com vistas a um futuro melhor. Nesse sentido, a partir dos debates realizados sistematizamos a seguir os seguintes pontos centrais a serem trabalhados e implementados pelo povo Xokó e seus parceiros, sejam eles a Universidade ou os diversos órgãos governamentais e não governamentais.
Dentro das Políticas Especiais para Mulheres, a secretária de Estado de Políticas para Mulheres, Maria Teles, enfatizou a necessidade haver um estreitamento nos laços entre o governo e as mulheres Xokó no intuito de promover ações que busquem a autonomia financeira para as mulheres da nossa comunidade. Neste sentido, faz-se urgente a representação do povo Xokó junto a Coordenadoria de Políticas para Mulheres.
Em relação à Educação, que esteve representada pela Coordenadora do Núcleo de Educação Indígena e Quilombola, Maria Conceição, ficou clara a necessidade de um maior comprometimento da Secretaria de Estado da Educação no que tange a implantação de uma Escola Indígena verdadeiramente diferenciada, conforme prevê a legislação em vigor no Brasil. As ações realizadas até agora por esta Secretaria, a exemplo do que foi apresentado por meio de publicações, foram importantes para o nosso povo, mas já não são suficientes para o momento atual de nossa história. Nossas crianças e jovens precisam ter, no ambiente escolar, um contato de qualidade com os conteúdos propostos pelos Parâmetros Curriculares Nacionais, do Ministério da Educação (PCN/MEC), amparado em um profundo conhecimento da sua própria cultura. Além disso, precisam buscar uma formação universitária, dentro das demandas da comunidade, sem com isso perder sua identidade. Pois, qual é o propósito dessa formação se não for para o bem estar de nosso povo? Quem tem condições de dizer qual educação diferenciada é necessária para os Xokó? Essas são algumas das perguntas que necessitam de um diálogo mais apurado para se chegar às respostas concretas.
No que diz respeito aos Direitos Humanos, o secretário de Estado dos Direitos Humanos, Luis Eduardo Oliva, se comprometeu em buscar os meios legais e servir como via de acesso aos demais órgãos governamentais sempre que os direitos fundamentais do Povo Xokó estiverem sendo ameaçados e/ou violados.
Em se tratando da Saúde Indígena, o debate promovido durante este 1º Seminário Indígena Xokó foi extremamente necessário, pois até dezembro de 2012 nosso povo era assistido pelo Estado de Alagoas, devido a um acordo firmado entre os governos de Alagoas e Sergipe. Contudo, desde o início de 2013, o povo Xokó está desassistido pelos dois Estados. Sabemos que o processo de transição não é fácil, mas também temos consciência de que a Secretaria de Estado da Saúde precisa assumir sua responsabilidade perante o Povo Xokó. Neste sentido, é preciso estabelecer, por meio de diálogo com o governo, quais são as necessidades de média e alta complexidade, além de priorizar a atenção à saúde de mulheres, crianças e idosos.
A Codevasf, por meio do seu diretor-administrativo, Antonio Porfírio, ficou responsável em promover um debate sobre quais os projetos que estão previstos ou em andamento na região do Baixo São Francisco e seus possíveis impactos para os Xokó. Porém, a temática não foi tratada conforme o previsto, deixando novamente nossa comunidade à margem da discussão e sem informações suficientes para possamos nos organizarmos e nos posicionarmos sobre este importante tema.  A Codevasf aproveitou a ocasião para divulgar a doação de três kits de Irrigação à Comunidade Xokó e colaboração da instituição para a criação de Abelhas.
Em se tratando da Universidade Federal de Sergipe, o Reitor Dr. Angelo Roberto Antoniolli, ressaltou a importância de se promover o estreitamento das relações entre a Universidade e a sociedade em geral e particularmente da importância de induzir e direcionar trabalhos de pesquisa e extensão na aldeia Xokó. O reitor ressaltou que tais trabalhos e pesquisas devem ser desenvolvidos nas mais variadas áreas, tanto no campo da saúde, quanto no campo da educação e das ciências da terra, fomentando projetos e estágios de final de curso que aproximem os professores e estudantes universitários do povo Xokó, propiciando apoio técnico aos projetos de interesse comuns a serem aí desenvolvidos. Ressaltou ainda que a Universidade é um espaço de reflexão permanente que pode servir para fomentar o diálogo entre os vários setores envolvidos no processo, sejam eles governamentais, acadêmicos ou da sociedade civil.
Por fim, aproveitamos este momento singular para agradecer a presença de um homem que, ao longo dos últimos anos, esteve constantemente ao nosso lado, nos defendendo, apoiando e também aconselhando. Um homem de fala mansa e de atitudes concretas, merecedor de nosso profundo respeito. Ao professor Luiz Alberto dos Santos, nosso sincero e humilde agradecimento por compartilhar conosco mais um momento de nossa história.


Aracaju, 20 de abril de 2013.

segunda-feira, 17 de dezembro de 2012

AS PRÁTICAS TRADICIONAIS DA COMUNIDADE XOKÓ NA ILHA DE SÃO

Gisélia de Souza Cardoso ;
 Rosana Eduardo da Silva Leal (Orientadora-NTU/UFS)

O presente trabalho tem por finalidade analisar a relação entre comunidades tradicionais, educação e turismo, tendo como contexto empírico a população Xokó, que está localizada no município de Porto da Folha, no estado de Sergipe. Esta análise é parte do estudo que vem sendo desenvolvido no Grupo de Pesquisa Gestão de Turismo e Hospitalidade, no Núcleo de Turismo da Universidade Federal de Sergipe, que visa ampliar o olhar científico e técnico sobre a comunidade, através do estudo de elementos ainda não abordados sobre o tema, como, por exemplo, o estudo sobre a relação entre visitantes e visitados. Isso se deve ao fato de que hoje a aldeia tem sido centro de visitação de escolas do ensino médio e fundamental, bem como pesquisadores, professores e universitários, que chegam semanalmente à localidade com a finalidade de conhecer os modos de vida do grupo. O objetivo da pesquisa é levantar o repertório de saberes e fazeres que possam compor um projeto de desenvolvimento turístico-educativo de base comunitária, envolvendo elementos de reforço identitário local, tais como costumes e práticas alimentares, atividades econômicas e de subsistência, bem como artesanato, rituais e celebrações tradicionais. O estudo vem sendo feito por meio da pesquisa bibliográfica, documental e de campo, com a realização de entrevistas e produção de diário de campo. Neste âmbito, tem como base metodológica o método etnográfico, que possibilita a identificação in loco das práticas cotidianas entre os membros da comunidade e a sociedade mais ampla. Tal instrumento contribui para obter conhecimento sobre os padrões de pensamento e comportamento dos índios no seu cotidiano, por meio de práticas, hábitos, fatos e eventos observados. Os resultados da pesquisa serão utilizados como fontes de informação para a produção de um projeto turístico-educativo para a aldeia, que pretende sugerir o desenvolvimento de ações para a comunidade. Tais ações serão elaboradas coletivamente, estimulando a gestão participativa, com o intuito de possibilitar o contato dos grupos de visitantes com os elementos identitários locais e identificar como estes podem ser trabalhados e ofertados para sociedade mais ampla. Os dados coletados até então tem proporcionado o conhecimento do passado e da situação atual da comunidade, contribuindo para a identificação de práticas tradicionais presentes no dia-a-dia do grupo.

quinta-feira, 4 de outubro de 2012

Artigo apresentado no III Colóquio do GPCIR

Índios em Sergipe: O resgate da identidade na terra da Caiçara


Rose Almeida[1]
Marcos Paulo Lima²

Acabou aquela história de chamar de patrão,
aqui a terra é de todos, não é para negócio, é para trabalhar.
Essa terra é um bem histórico, é a terra dos Xokó.
 É um bem de raiz.
(Pajé Raimundo, Xokó, 74 anos)
Resumo
Havia em Sergipe no século XIX aproximadamente cinco aldeias indígenas que desapareceram das documentações oficiais e nada fora escrito sobre elas, sobretudo o que teria lhes acontecido. Os Xokó são povos remanescentes advindos de vários grupos indígenas que no decorrer do tempo passaram por miscigenações, perdendo suas características culturais e fenotípicas de seu grupo de origem. A presente pesquisa tem por objetivo analisar a trajetória do resgate da identidade do povo Xokó na terra da Caiçara, localizada na cidade de Porto da Folha, Sergipe. A perda gradual do espaço geográfico da aldeia São Pedro, como também é conhecida essa região, comprometeu a organização social dos Xokó, fortemente ligada aos seus conceitos míticos. Não só a perda do seu território alterou os aspectos culturais desses índios, mas o processo de anulação dos seus valores culturais também corroborou para seu efetivo desgaste. Destituídos de seus territórios tradicionais, os grupos indígenas deixaram de ser considerados como coletividades, sendo reconhecidos individualmente como “remanescentes”. Não obstante a expropriação de seu território foi tomado dos Xokó outros valores. Esses povos foram perdendo progressivamente sua identidade, sua forma de organização politica, econômica e social, suas crenças e práticas religiosas, enfim sob a égide de povoar terras devolutas foi tirado dos índios da caiçara sua sistemática cultural.
Palavras Chaves: Índios, Resgate, Identidade e Afirmação Cultural


Résumé
Au XIXe siècle, il y avait dans le Sergipe environ cinq villages indiens. Ils ne sont cependant pas mentionnés dans les documents officiels et rien n'a été écrit à leur sujet, en particulier sur ce qui leur est arrivé. Il reste aujourd´hui les Xoko qui, provenant du métissage de divers groupes indigènes, ont perdu les caractéristiques culturelles et phénotypiques de leur groupe d'origine. Notre recherche vise à analyser comment ces indiens, peuplant les terres de Porto da Folha dans le Sergipe, peuvent réussir malgré tout à préserver une identité. La diminution progressive de l'espace géographique du village Saint-Pierre, la région étant également connue sous ce nom, a compromis l'organisation sociale des Xoko, fortement liée à des concepts mystiques. Cette perte de territoire modifiant  certains des aspects de la culture xoko s´est de plus cumulée à un processus de destruction de leurs valeurs culturelles. Privés de leurs territoires traditionnels, les groupes indigènes ont cessé d´être reconnus en tant que collectivités, les indiens individuellement n´étant plus considérés que comme une « survivance ». Mais l'expropriation ne s´est pas limitée au territoire, elle a aussi concerné les valeurs mêmes des Xoko qui ont perdu progressivement leur identité, leur forme d'organisation politique, économique et sociale, leurs croyances et pratiques religieuses, En bref, sous le motif d´occuper des terrains vacants, c´est tout leur système culturel qui leur a été retiré.
Mots-clés : Indiens de Sergipe, Sauvetage, Identité, Affirmation Culturelle et Territoriale.


[1]Autora: Acadêmica do curso de História da Universidade Federal de Sergipe, bolsista do PIBID sob a orientação da professora Célia Cardoso Costa. Email: rosetraquina@hotmail.com
² Co-autor: Acadêmico do curso de História da Universidade Federal de Sergipe, membro do Grupo de Pesquisa Cultura, Identidade e Religiosidade pela Comissão de Estudos “Índios em Sergipe”, sob a orientação do professor Antônio Lindvaldo Sousa.



Introdução
Este artigo tem como objetivo analisar o resgate da identidade do povo Xokó na terra da Caiçara localizada na cidade de Porto da Folha, Sergipe.  A metodologia aplicada nesta pesquisa foi o levantamento de fontes bibliográficas e orais. O referencial teórico utilizado foi: Avelar Araújo Souza Júnior, Beatriz Gois Dantas, Maria Thétis Nunes, Araci Lopes da Silva, Hélia Maria de Paula Barreto, Nobert Elias entre outros.
Havia no século XIX em Sergipe, aproximadamente cinco aldeias indígenas que desapareceram das documentações oficiais e nada fora escrito sobre elas, sobretudo o que teria lhes acontecido. A pesquisadora Beatriz Gois Dantas no final dos anos 60 e inicio dos anos 70, partiu para os arquivos sergipanos, especialmente o Arquivo Histórico de Sergipe, onde com dedicação, paciência e apoio de sua equipe foi organizando e catalogando importantes documentos sobre os povos indígenas que habitavam Sergipe.
A história da Caiçara, como ainda hoje é popularmente chamada à região habitada pelos remanescentes indígenas sergipanos, se mistura a história do município de Pão de Açúcar em Alagoas, tendo em vista a proximidade entre os municípios.  Porto da Folha em Sergipe era chamado de Jaciobá (“espelho da lua” em guarani). A história do município alagoano, diz que a região era habitada por índios da tribo Urumaris, que foram expulsos por índios Chocós da Ilha de São Pedro, em Porto da Folha, que ao atravessarem o rio  denominaram o local também de Jaciobá, atual Pão de Açúcar. No baixo São Francisco, os Xokó foram encontrados também nos municípios de São Braz (AL), Porto Real do Colégio (AL) e Pacatuba ( AL).
Os Xokó são povos remanescentes advindos de vários grupos indígenas que no decorrer do tempo passaram por miscigenações, perdendo suas características culturais e fenotípicas de seu grupo de origem. Muitos dos remanescentes que vivem hoje na Ilha de São Pedro, por lá já habitavam a época da expropriação de suas terras pelos fazendeiros, presenciaram ainda crianças a expulsão de suas famílias da região da Caiçara.
E mesmo após a reconquista de suas terras, muitos percalços ainda assolaram o cotidiano do povo Xokó, principalmente no que se refere ao resgate de sua identidade e de sua dinâmica cultural, pois não só a perda de seu território alterou a rotina dessa comunidade, mas o processo de anulação dos seus valores culturais contribuiu para seu efetivo desgaste.

Espaço Territorial:
O território dos índios Xokó está localizado às margens do rio São Francisco, na ilha de São Pedro, também conhecido popularmente como terra da caiçara no município de Porto da Folha Sergipe, fazendo limite com a cidade alagoana de Pão de Açúcar, compreendendo na sua totalidade 4.317 hectares.  As terras dos Xokó foram demarcadas como área indígena desde o inicio do século XVIII, quando o governo português delimitou como território indígena várias áreas no Brasil.
(...) dê toda providência necessária a sustentação dos Párocos e índios do Brasil sobre que se tem passado repetidas ordens e se executam pela repugnância dos Donatários e Sesmeiros que possuem as terras dos sertões. Hei por bem, e mando que a cada uma missão se dê uma légua de terra em quadra para sustentação dos índios e missionários com declaração que cada aldeia, se há de compor ao menos de cem casais. (Alvará de 23 de novembro de 1700. BIBLIOTECA NACIONAL, 1944:67).
O espaço geográfico que atualmente corresponde ao Estado de Sergipe, principalmente os vales dos seus rios até as fozes, foi ocupado em tempos históricos por inúmeros povos indígenas que manifestaram formas peculiares de organização sócio-cultural, levando-se em consideração a grande diversidade de povos e línguas faladas, presentes num mesmo território, tendo como elemento singular sua pluralidade, onde muitas destas línguas foram extintas com seus povos. Estima-se que até os primeiros anos da invasão colonial teriam vivido em terras sergipanas diversos grupos, entre eles: Os Tupinambá, dominavam a faixa do litoral Sergipano, os Kiriri mais ao Sul de Sergipe, os Boimé, Kaxagó, Katu, Xocó, Romari, Aramuru e karapotó ao Norte de Sergipe próximo ao Rio São Francisco.
DANTAS (1997:12) relata ainda quando os Xokó chegaram à Ilha de São Pedro:
(...) as referências mais antigas a índios Xokó referem-se a grupos situados nas imediações do rio São Francisco (...) Somente no final do século XVIII encontraram-se em fontes escritas referências aos grupos Xokó... gravados sob diferentes formas: Schocó, Xocó, Choco, Chocoz, Ciocó, Ceocose. Sugerem quase sempre associados a espaços missionários. Há registro de Xokó em tempos passados, num espaço geográfico que vai de Sergipe ao sul do Ceará. (...)
            Importa salientar que desde o século XVI o nordeste foi dividido e distribuído em sesmarias, com exceção das terras indígenas, submetidas a ordens religiosas.  Assumiu a catequese dos íncolas sergipanos os franciscanos, carmelitas, jesuítas e capuchinhos. O crescimento da economia açucareira suscitou por mão-de-obra escrava, que no primeiro século da colonização era formada por índios que eram capturados e enviados a diversos engenhos da Bahia e Pernambuco.
Observa-se que o processo civilizador proposto e implementado durante a colonização do Brasil, foi assumido tanto pelas estruturas políticas vigentes quanto pela igreja católica, a violência era medida estratégica para a destruição das populações autóctones implicando em sua eliminação gradual e avassaladora.
            Um dos mais radicais processos de informalização desse tipo foi a destruição dos rituais que davam significado à vida e sustentavam modelos de vida coletiva entre os povos mais simples. No processo de colonização e no trabalho missionário por europeus. Talvez fosse útil examinar isso brevemente. Um dos mais extremos exemplos da desvalorização de um código que fornece significado e orientação a um grupo em ligação com a perda de poder do seu             grupo portador é a eliminação das classes superiores nas Américas Central e do    Sul, no decorrer da colonização e imposição do cristianismo pelos espanhóis e portugueses. (ELIAS, 1997, p. 77).
            José Bonifácio de Andrada e Silva, figura central no processo de constituição do Brasil independente, endereçou em 1823 à Assembléia Nacional Constituinte os “Apontamentos[1] para a civilização dos índios bravos do Império do Brasil”. Estes apontamentos, sugerindo um conjunto de medidas de “que se deve lançar logo mão para a pronta e sucessiva civilização dos Índios...” (p. 77).
A facilidade de domesticá-los era tão conhecida dos missionários, que o Padre Nóbrega, segundo refere o Vieira, dizia por experiência, que com música, e harmonia de vozes se atrevia a trazer a si todos os Gentios da América. Os Jesuítas conheceram, que com presentes, promessas, e razões claras e sãs expendidas por homens práticos na sua língua podiam fazer os Índios bárbaros o que deles quisessem. Com o Evangelho em uma mão, e com presentes, paciência e bom modo na outra, tudo deles conseguiam. Com efeito, o homem primitivo nem é bom, nem é mau naturalmente, é um mero autômato, cujas molas podem ser postas em ação pelo exemplo, educação e benefícios.(p. 72)

A expedição vitoriosa liderada por Cristóvão de Barros a Sergipe del Rey, teve como objetivo precípuo dominar e cativar os índios, tendo como corolário a fundação da cidade-forte de São Cristóvão e a distribuição de sesmarias aos que contribuíram para tal feito.
Ademais, os que conseguiram escapar ao aprisionamento ou à morte se espalharam pelo sertão, atravessando o rio São Francisco. Com a incorporação do território sergipano ao sistema colonial português, via extermínio e massacre, as antigas terras indígenas passaram a serem divididas e distribuídas em forma de sesmarias entre os colonos brancos, muitos ligados a Casa da Torre, sendo ocupadas gradativamente pelas plantações de cana-de-açúcar e lavouras de subsistência, como também pelas pastagens de gado voltadas aos mercados consumidores da Bahia e Pernambuco (NUNES, 1989:179).
Acrescenta DANTAS:
(...) Muitos índios foram aqui escravizados e levados para as povoações dos portugueses localizadas na Bahia. Numa revolta de escravos, aí ocorrida em 1568, índios fugiram à escravidão e voltaram para o rio Real, sua terra de origem. Esses escravos indígenas constituíam segundo fontes da época, metade dos habitantes de uma aldeia de mil almas o que dá a dimensão da escravização dos índios de Sergipe ainda no terceiro quartel do século XVI. (DANTAS, 1991:33,34).
Destarte, eram constantes os conflitos no município de Porto da Folha, onde habitavam os Xokó. Em 1845, foi criada a Diretoria Geral dos Índios, o que não acarretou estabilidade a região. As terras estavam nas mãos de famílias fazendeiras poderosas e os índios continuavam segregados e explorados.

As Missões Religiosas
Sobrepõe-se ainda analisar outro importante aspecto durante esse período, o marcante papel das missões religiosas junto às populações indígenas do São Francisco, cumprindo a resolução do Governo Imperial de confiar o domínio e a catequese aos capuchinhos italianos, chegando à missão de São Pedro em 1849, representados pelo Frei Doroteu de Loreto que passou a residir no convento ao lado da igreja de São Pedro, recebendo apoio dos fazendeiros locais até o fim de sua permanência em 1878, hoje o que resta do convento são ruínas destruídas pelo tempo, a igreja ainda se mantém de pé e somente depois de dois séculos passou por algumas reformas.
 Frei Doroteu configurou-se nesse processo como personalidade ambígua, determinando medidas drásticas à população indígena da Ilha de São Pedro, como a proibição dos batuques, danças e bebedeiras, obrigação de trabalhos forçados e castigos. Ao tempo em que a permanência do Frei na ilha, inibia as ações dos coronéis de tornar as terras indígenas devolutas, garantindo-lhes legalmente sua expropriação, decerto sua influência não assegurou a posse efetiva da terra aos indígenas, todavia ele contestava a ideia da sua inexistência. Assim comenta Figueiredo (1981, p. 90): “Com a morte, em 1878, de frei Doroteu, índios Xokó passam a ser expulsos da Ilha de são Pedro, a toda hora invadida por donos de terra e seus prepostos, o bacamarte comandando as invasões".
Dom Pedro II em visita a Ilha de São Pedro recebeu dos índios reivindicações acerca dos maus tratos, da violência e da expropriação de suas terras pelos fazendeiros:
Largamos de Pão de Açúcar às dez. Ás dez e quarenta fomos para São Pedro Dias e às onze e dez o vapor tornou a seguir. Haverá na aldeia 100 índios, e muitos portugueses. Aqueles queixam-se destes que lhes aproveitam as terras dizendo o diretor interno, Frei Doroteu, capuchinho, que os índios são indolentes, e quando plantam, dá terras aos pobres às vezes sem exigir renda alguma. (...) algumas mulheres pediram-se para sair de lá o vigário encomendado, Frei Doroteu, e os mesmos índios dizem que ele é mau diretor, porém bom vigário, por ser muito religioso. (...) Ouvi que s índios queixam-se de frei doroteu por ele lhes impedir os batuques, bebedeiras e os obriga a trabalhar, e foi ele quem reparou a Igreja agenciando esmolas. (Fragmento do Diário da Viagem de Dom Pedro II ao Norte do Brasil, encontrado no livro de tombamento do Conselho de Cultura de Sergipe, pp.133-135).
A perda gradual do espaço geográfico da aldeia São Pedro comprometeu a organização social dos Xokó, fortemente ligada aos seus conceitos míticos. O espaço da aldeia tem uma relação com o sagrado e a sua perda implica em falta de referencial para as demais atividades do grupo. Não só a perda do seu território alterou os aspectos culturais desses índios, mas o processo de anulação dos seus valores culturais também corroborou para seu efetivo desgaste.
Depoimento de José Cândido (102 anos) baseado nas histórias que suas tias contavam apud BARRETO (2010):
Iam dançar o Toré escondido (...) Era na beira da lagoa de Pão de açúcar, os primeiros terreiros (...) Jesuíno Abreu, Inocêncio Pires, Manoel Lapada, Quirino e Hipólito vinham dançar escondidos (...) frei Doroteu pediu que mudasse porque não dava certo, estava interrompendo o expediente dele (...) Passaram a dançar embaixo dos imbuzeiros da central (...) Foram para a Serra do Sentado, 500 metros do lado de baixo, do lado do Pajéu de Rubina. No terreiro, mais ou menos uns 200 metros de extensão (...) faziam comida, cozinhavam e dançavam o Toré.

Em 1853 o presidente da província de Sergipe, José Antonio de Oliveira e Silva, solicitou ao imperador a extinção da Diretoria Geral dos Índios em Sergipe, decretada extinta em 06 de abril do mesmo ano, através do decreto nª 1.139. Convicções corroboradas e embasadas no relatório enviado pelo seu antecessor Amâncio João Pereira Andrade ao então Secretário Geral dos Negócios do Império:
Possuindo os índios de Porto da Folha e seus descendentes uma légua de terra, excelentes para criação de gado, não há ali uma casa que se possa notar abastada, sendo todos esses indivíduos, que só chegam ao número de 260, pobríssimos e miseráveis (...) Vivendo eles assim há muitos anos, e sendo povoação composta por esse modo, não há razão alguma para que volte à antiga condição de aldeia; regresso este com que nada ganha a Província nem mesmo homens, que ainda hoje indevidamente se chamam índios (...) uma vantagem que desaparecesse a raça indiana (sic) por meio do cruzamento, desaparecendo também seus péssimos costumes (APES, G 243).
Desta feita, Sergipe passou a afirmar a inexistência de índios em seu território, amparado na lei iniciou-se então a tomada de suas terras, negando radicalmente sua existência e sob o pressuposto de mestiçagem se abstiveram de garantir-lhes assistência, transformando suas propriedades coletivas em latifúndios privados. O aviso número 172  do Ministério dos Negócios do Império de 21 de outubro de  1850, determina incorporar aos próprios nacionais as terras dos índios que já não vivem aldeados, mas sim dispersos e confundidos na população civilizada (APES, PAC.425).

Perda da Identidade
Destituídos de seus territórios tradicionais, os grupos indígenas deixaram de ser considerados como coletividades, sendo reconhecidos individualmente como “remanescentes”. No final do século XIX os registros já não fazem referência a índios em Sergipe, são apresentados como seres do passado, extintos. Nos levantamentos censitários aparece a categoria caboclo, uma nova forma de identificação imposta aos habitantes das aldeias.  (DANTAS, 1991: 51).
Ser índio é ter orgulho de sua história, tentar ficar o mais próximo da natureza, acreditar em sinais de Deus através de pássaros e visões. O ritual faz parte da nossa vida, pois através dele resgatamos a nossa história, sabemos realmente o que significa ser índio, sentimos a força de Deus e a presença do Espírito Indígena. Preservamos os rituais sagrados: danças, costumes com trajes indígenas, pintura do corpo e o toré. (Amanda e Nayane. Povo Xokó: História de Luta e Resitência, MEC/SEED).

 Santos Júnior (2011: p.36) descreve que em 1879 foi solicitada ao Governo Central, pela Câmara Municipal da Ilha do Ouro, sede da Vila, uma légua de terras próprias do “extinto” e “abandonado” aldeamento de São Pedro. Pelo contexto dos conflitos entre índios e brancos, como também entre os próprios coronéis, o processo de outorga dos terrenos indígenas pela Câmara Municipal durou quase uma década, até que, em 12/12/1887, o Ministério da Fazenda declarou a concessão das terras do antigo aldeamento de São Pedro à municipalidade. A partir de 1888, os lotes foram dispostos ao aforamento, tendo sido arrendados pelos vorazes fazendeiros. Dentre ele se destacava o influente Coronel João Fernandes de Brito, que em 1897 apareceu como foreiro de cinco dos oito lotes do antigo aldeamento, compreendendo a Ilha de São Pedro, a Lagoa da Caiçara, Lagoa do Pão de açúcar e Brandão, Lagoa Grande e um terreno encravado em tal conjunto.
Não obstante a expropriação legal, porém imoral, de seu território, foram tomados dos Xokó outros valores. Esses povos foram perdendo progressivamente sua identidade, sua forma de organização politica, econômica e social, suas crenças e práticas religiosas, enfim sob a égide de povoar terras devolutas foi tirado dos índios da caiçara sua sistemática cultural.
Ao longo desses anos o povo indígena Xokó vem construindo um mundo com maturidade organização e prazer. Mesmo assim, fomos chamados de índios atrasados e incapazes. Essa violência nos doeu muito e lutamos uma batalha que valeu muitas vidas, povos inteiros foram destruídos. Grandes homens e mulheres morreram por acreditar em viver enquanto povo livre e com jeito próprio de entender e viver a vida. Tudo isso nos tornou experiente, pois, a dor machuca, mas também nos ensina. (Apolonio Xokó)
Segundo LARAIA (2009:59) apud Sahlins, Harris, Carneiro, Rappaport, Vayda e outros que, apesar das fortes divergências que apresentam entre si, concordam que: “Culturas são sistemas (de padrões transmitidos) que servem para adaptar as comunidades humanas aos seus embasamentos biológicos. Esse modo de vida das comunidades inclui tecnologias e modos de organização econômica, padrões de estabelecimento, de agrupamento social e organização política, crenças e práticas religiosas, e assim por diante”.
Para sobreviver e continuar como descendentes dos antigos habitantes do Brasil, boa parte teve que fugir, como foi o caso dos Xokó, que vivem com os Cariris em Alagoas, ou silenciar. (BARRETO: P.42).

Depoimento de José Cândido (102 anos) apud BARRETO (2010):
João Porfirio botou pra fora meu avô, Manoel Soares. Ele foi para Pacatuba, pra Mata das Araras e Pilicão. De lá veio pra saúde, em Neópolis (...) E meu pai chamava-se Marcionilo, irmão de José, Júlia e Manoel. Ia pra lá, pra cá, caçando meio de vida (...) E a mãe de meu pai chamava-se Maria Gata. Vivia carregando os milho dentro de um saco de corda, chamado aió. (...).
Outra grande preocupação do povo Xokó são as mudanças ocorridas às margens do Rio São Francisco, considerado a maior fonte de riqueza para os ribeirinhos e que por conta da transposição de suas águas, tem prejudicado a vida econômica e social da região. Do São Francisco era retirado parte da proteína consumida pelo grupo, hoje a pescaria é escassa e os prejuízos são inúmeros.
Atualmente as áreas destinadas ao cultivo é pouco significativa, predominando a produção de milho e feijão, a rizicultura, cultivo tradicional, não está sendo realizada, já que as cheias habituais do “Velho Chico” não ocorrem desde 1994, ano do fechamento da barragem de Xingó. O que prejudicou inclusive práticas culturais, pois nos dias dos fechamentos das lagoas para colheita do arroz se dançava o Toré e festejava-se muito. Hoje o que interliga a ilha de São Pedro à Caiçara pela via terrestre, é um pequeno córrego onde passam pequenos veículos, via anteriormente trafegável por grandes embarcações.
A Caiçara hoje só o nome, a lagoa que durante vários anos foi fonte de sobrevivência do nosso povo, na colheita do arroz e na pesca do peixe, Hoje passando em volta dela, não parece ser a lagoa da Caiçara, seca e cheia de mato. Se passaram apenas 33 anos da luta, e estamos aqui no mesmo lugar lembrando daquele 09 de setembro de 1979. Onde era um rio, hoje encontramos uma vegetação rasteira coberta pelo calombi. (Apolônio Xokó).
A produção de cerâmica era um dos símbolos demarcatórios da identidade do povo Xokó, que sem estímulo deixou de existir, o aproveitamento nas terras do baixo São Francisco das argilas e sua transformação em diversos objetos, era prática rentável e disseminadora da cultura indígena local, o trabalho da artesã e seu universo simbólico deixou de existir.
Depoimento de José Nilo apud BARRETO (2010):
No verão era pescar, panelar, carregar lenha na cabeça e nos animais (...) uma parte fazia panela no inverno, mas era sacrifício (...)  O barro para bater precisa estar seco para virar pó. (...) Toda terça-feira, uma base de oito canoas, carregdinhas, chegava, baixinha, pelo rio. Quando não dava pra trazer tudo, voltava outra viagem. Na faixa de umas quinze casas na Ilha, que fazia. Cada casa com duas ou três mulheres que faziam.

Dos Conflitos ao Resgate da Terra e Identidade
A despeito de todos esses conflitos envolvendo “homens poderosos”, os índios Xokó reagiram e insatisfeitos procuravam reverter a situação. Ao longo da história eles reagiram de formas diversas às dos brancos que lhes tomaram as terras e lhes impuseram outro modo de vida. Lutas, fugas e ataques, como os que fizeram à cidade de São Cristóvão em 1751 e 1763, sã algumas das formas de expressão da resistência dos índios de Sergipe (DANTAS 1991:51).
Em relação à reação dos índios aponta Felisbelo Freire:
(...) a ordem pública foi seriamente perturbada pelo assalto que os índios fizeram, em número de três mil, à cidade de São Cristóvão. As desordens nas aldeias sucediam-se. Os índios revoltavam-se contra seus capitães-mores e fugiam de umas para outras, tornando-se preciso medidas enérgicas como as que foram postas em prática para trazer a obediência. Daí nasceu o levante de 1751, que pode ser vencido pela guarnição da capital (FREIRE, 1977:207).
 Em 1888 empreenderam-se em infrutíferas expedições ao Rio de Janeiro, com intuito de reaver a posse de suas terras, tendo como representante da comunidade Manuel Esteves dos Anjos, Lourenço Marinho, Jesuíno Serafim de Souza e Manuel Pacífico de Barros e os índios Antônio Venâncio Ribeiro, Francisco Mathias de Souza e Inocêncio Pires. Em 1917, instigados pelo desprezo dado a sua causa e pela morte do Coronel João Fernandes de Brito, retornaram ao Rio de Janeiro em busca de suas reivindicações há muito suscitadas. E mais uma vez não obtiveram êxito, tendo em vista o poder que exerciam os coronéis sobres às autoridades, o que enfraqueceu e dispersou os indígenas, onde boa parte foi morar na aldeia dos Kariri em Alagoas e outros se espalharam por outras regiões, como Mocambo, Pão de Açúcar, Penedo, Carrapicho, Itabaiana e Aracaju. Foram muitos os perseguidos que, fugindo das diversas formas de violência tiveram que abandonar sua terra, seu povo e sua cultura.
Depoimento de José Cândido (103 anos) apud BARRETO (2010):
Nóis plantava 3 alqueires de arroz. E uma e meia era para pagar aos Brito. Fiz uma dívida de 5 mil réis. E corria juro de 5, de 10. Aí disse a Almeida e Joca: Tanto que trabalhei e fiquei sem comer com meus filhos. E ainda disse: Tenho fé em Deus em ter um meu (pedacinho de terra e um cavalo). Um dos dois contou ao coronel Antônio Brito que mandou me chamar... e na conversa falou... Coroné, se falei certo o senhor apóia se quiser. Se falei errado por amor de deus me perdoe. E mais adiante conta da ordem que recebeu. – Tem quinze dias para desocupar a casa.
Afirma Souza Júnior (2011:39) que no decorrer do processo de expropriação legal do seu território, os remanescentes Xokó tiveram de ocultar sua descendência indígena, assumindo-se como caboclos, sertanejos, vaqueiros ou cabras do sertão (...). Contudo os Xokó não desistiram da luta pela terra, e alguns dos seus representantes dirigiram-se mais uma vez a Capital Federal, em 1964, porém, a reivindicação de posse da Ilha de São Pedro não foi novamente atendida. 
Falando sobre os remanescentes ressalta DANTAS (1997:8-12): (...) ser índio é um modo de identificação social e o social não se define pelo biológico (...) desse modo, os Xokó, como muitos outros grupos indígenas do Brasil, particularmente no Nordeste, apesar do tipo físico e da cultura não corresponderem ao estereótipo de índio para o senso comum, identificam-se como índios e têm o sentimento de pertencerem a um grupo de referência muito definido: a comunidade indígena. (...) o que se conhece sobre os Xokó é resultante do encontro e desencontro entre índios, negro e brancos. Encontro marcado por interesses diversos, por trocas, alianças e conflitos ao longo do tempo.
As terras até então aforadas aos fazendeiros, foram vendidas em 1963 a Elizabeth Guimarães Brito, filha coronel João Fernandes de Brito, com a aquiescência do Prefeito de Porto da Folha, Pedro Xavier de Melo e do Governador João Seixas Dória. Em setembro de 1978 os Xokó resolveram cercar a Caiçara e apesar das diversas intimações judiciais, em 1979 os remanescentes Xokó decidiram transferir sua comunidade da Caiçara e do Belém para os 96 hectares da Ilha de São Pedro.
Depoimento do Sr. Raimundo José, o pajé, BARRETO (1984):
Em 1978, João Brito escolheu um candidato a vereador (Gavião) e queria que o povo votasse nele. Veio atrapalhar e depois melhorar a situação. O povo da Caiçara se reuniu e decidiu não votar nele. Os Brito resolveu trancar tudo. Não se planta mais o arroz e não se faz o artesanato de louça. Conversamos sobre o que fazer. Nois vai pra onde? Tem a Ilha de São Pedro que é criatório de gado... Como vai pra ilha? Como? Vamos cercar a Ilha. Só havia a igreja e cemitério. Compramos o arame. Veio  rebuliço. Um monte de processo em Porto da Folha contra os Xokó. Quando intimado, ia todo mundo. Acabaram nossas roças, e as comunidades por fora nos aplaudia. E foram nossos irmão na época...Até sabonete vinha. As crianças sofria com muriçoca, mas fome não...O sofrimento foi uma coisa extremosa, mas vencemos com os poder de Jesus Cristo.
 Em 1988 a FUNAI (Fundação Nacional do Índio) reconheceu os direitos do povo Xokó sobre suas terras e o Governo Federal através do Decreto 401 de 24 de dezembro de 1991, homologou a sua efetivação como área indígena e somente em maio de 1993, após anos de reivindicações, foi garantido legalmente à população indígena Xokó a reintegração definitiva dos hectares da Caiçara, momento celebrado até os dias atuais com muita festa. 
Em 1999 lhes foi entregue as Fazendas Rancho Bom, Belém e São Geraldo, sendo gradativo o processo de devolução até março de 2003, quando conseguiram reaver a Fazenda Maria Preta. Todo dia 09 de setembro, comemora-se na Caiçara o seu “Dia da Independência”, data alusiva ao dia da invasão da Ilha de São Pedro em 1979.
CONSIDERAÇÕES FINAIS
Em Sergipe a situação do indígena não foi diferente do que acontecera no resto do Brasil, a sistemática supressão dessa cultura foi um fenômeno nacional do qual Sergipe não se fez exceção. O povo Xokó configura-se como única memória coletiva da presença de índios no Estado de Sergipe reavendo enfim o direito sobre seu território, todavia a luta em busca de reconhecimento, resgate e reafirmação de sua dinâmica identidade cultural é contínua, merecendo, contudo o devido apoio dos seus, da comunidade acadêmica, das diretrizes institucionais e da população de modo geral.
É sobremodo importante assinalar que os problemas sociais que circundam a vida do povo Xokó nos dias de hoje são inúmeros, e ainda longe de serem suplantados, serviços como o de saúde, saneamento básico e de educação são ainda muito precários. Atualmente são em média 80 famílias residentes na ilha de São Pedro, alguns parentes moram em Aracaju, no município de Nossa Senhora do Socorro, ou localidades vizinhas a Porto da Folha. A comunidade possui uma escola, o Colégio Estadual José Brandão de Castro, um CRAS – Centro de Referencia Assistência Social, duas Associações: Associação Indígena do Povo Xokó e Associação das Mulheres Indígenas Xokó e uma igreja, a Igreja de São Pedro que resistiu, também com muita luta, as intempéries e ao descaso dos detentores de poder.
Durante mais de cem anos os índios Xokó tiveram sua identidade negada, muitos foram perseguidos e submetidos a diversos tipos de atrocidades, contudo,  a luta dos Xokó em reaver a Caiçara foi aos poucos mudando a rotina dessa comunidade, uma luta não somente pela retomada de suas terras, como também em favor do resgate de sua identidade e de sua sistemática cultural.


[1] Apontamentos para a Civilização dos índios brancos do Império do Brasil, encontra-se na coletânea organizada por Otavio Tarquínio de Sousa, José Bonifácio (Biblioteca do Pensamento Vivo, Livraria Martins Editora, São Paulo, 1944, p. 67-93).

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

BARRETO, Hélia Maria de Paula. Produção Cerâmica Xokó: A retomada de uma identidade. São Cristóvão: Editora UFS/ Fudação Oviêdo Teixeira, 2010.
DANTAS, Beatriz Góis Dantas. Textos para a História de Sergipe. Aracaju: 1991. Universidade Federal de Sergipe/BANESE.
ELIAS, Nobert. Envlvimento e distanciamento. Lisboa: Dom Quixote, 1997.
________. O processo civilizador. Rio de Janeiro: Jorge Zahar, 1994. v. 1.
FREIRE, Felisbelo. História de Sergipe. Petropolis: Editora Vozes/Governo do Estado de Sergipe, 1977.
LARAIA, Roque de Barros. Cultura: um conceito antropológico. Rio de Janeiro: Jorge Zahar Ed., 1986.
NUNES, Maria Thétis. Sergipe Colonial I. Rio de Janeiro: Editora Tempo Brasileiro/UFS, 1989.
SANTOS JUNIOR, Avelar Araújo. Terra Xokó: Um espaço como expressão de um povo. Aracaju: Editora Diário Oficial, 2011.
SILVA, Araci Lopes da. Índios. São Paulo: Ática Ed., 1988. (Coleção Ponto por Ponto)
STADEN, Hans. Duas viagens ao Brasil: primeiros registros sobre o Brasil. Trad. Angel Bojadsen. Porto Alegre: L&PM, 2009.
ARRUTI, José Maurício, “Da Memória Cabocla, a História Indígena”: conflito, mediação e reconhecimento. Xokó, Porto da Folha/SE).
ARRUTI, José Maurício Andion.  Etnias Federais: o processo de identificação de remanescentes indígenas e quilombolas no Baixo São Francisco. Tese de Doutorado em Antropologia Social, Museu Nacional Rio de Janeiro, 2002, 422p. (mimeo).

ALMEIDA, Eliane Amorim, MASCARENHAS, M. da Conceição S.G (coord).   Povo Xokó: História de Luta e Resistência. Aracaju: MEC/SEED, 2012.